A imprensa publicou detalhes do plano russo citando as suas próprias fontes. Tudo deverá decorrer em várias etapas: primeiro a Síria irá aderir à Organização para a Proibição de Armas Químicas, depois Damasco irá declarar os locais de armazenagem e fabrico de armas químicas e, em seguida, permite o acesso a eles dos inspetores. Numa quarta etapa, as autoridades sírias decidem, em conjunto com os inspetores, como e por quem serão essas armas destruídas. Diz o perito Vladimir Slatinov do Instituto de Estudos Humanitários e Políticos:
"O plano é muito rigoroso, mas cada passo seu exige um planejamento técnico e a conjugação dos interesses dos países interessados. Eu penso que será aqui que irá surgir um determinado problema. Isso porque a execução do plano prevê um elevado nível de confiança. Se esse nível for atingido, então as oportunidades para que esse plano seja cumprido irão aumentar. Mas se as partes não demonstrarem confiança recíproca, o plano ficará comprometido."
De resto, os peritos preveem complicações decorrentes de uma série de fatores prévios, cujo grau de influência sobre a situação não se pode prever com rigor. Diz o analista do Instituto de Economia Global e Relações Internacionais (IMEMO) Viktor Nadein-Raevsky:
"No cômputo geral, a maioria dos envolvidos no problema sírio está interessado apenas em derrubar Assad. Depois disso que aconteça o que tiver de acontecer. Só há pouco tempo é que eles começaram a pensar nas consequências e começaram a perceber que, em caso de uma vitória da oposição, eles ficarão do mesmo lado da barricada que a Al-Qaeda. Será preciso prever possíveis ataques da oposição, porque ela dispõe de armas químicas. Pelo menos para nós isso é evidente. Também podemos não ter dúvidas que à oposição não faltará determinação para as usar. Foram descobertos planos da oposição para realizar um ataque contra Israel. Será precisamente isso que eles tentarão fazer. Esses atos terão de ser prevenidos. Dentro da oposição ninguém pode prometer nada."
Será necessário bastante tempo para inspecionar os 40 paióis declarados que estão distribuídos por um vasto território, considera o perito britânico em armas químicas Richard Guthrie:
"Essas instalações estão realmente disseminadas por um vasto território e por esse motivo são difíceis de proteger. Isso pode provocar a tentação de os juntar em vários locais mais próximos uns dos outros. Surgem imediatamente os seguintes problemas: são necessários locais com condições para uma armazenagem prolongada. Em segundo lugar, essas armas terão de ser transportadas de forma a não haver derrames no caminho. Não deixam de ser armas químicas perigosas. Provavelmente, também, não poderão ser mantidas em bases militares (apesar de esses serem os primeiros lugares em que se pensa) porque essas armas terão se estar localizadas em terreno neutral e devem ser protegidas por forças neutrais."
Além dos problemas organizativos evidentes, ainda existem problemas de caráter tecnológico. Diz o editor principal da revista Arsenal Otechestva (Arsenal da Pátria) Viktor Murakhovsky, que também é membro do conselho de peritos da presidência da Comissão Militar Industrial:
"Para desativar as armas químicas são usadas instalações industriais especiais. Essas plataformas existem na Rússia. Nelas já foram recicladas dezenas de milhares de toneladas de substâncias tóxicas. Já na Síria penso que não é viável construir agora uma infraestrutura dessas. Isso seria um empreendimento bastante dispendioso. Se trata de alta tecnologia que necessita de especialista muito qualificados. A reciclagem em território sírio é neste momento impossível."
Portanto, existem instalações onde as armas químicas sírias podem ser destruídas. Uma outra questão é isso só ser possível se se abandonar a intenção de usar a força contra Damasco, mas os EUA ainda não abandonaram a sua vontade de intervir. Até eles garantirem a sua não-ingerência no conflito a questão irá ficar em suspenso e a responsabilidade por um possível fracasso recairá total e inteiramente sobre a administração norte-americana.
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