A última proposta do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que pretende utilizar água da represa Billings para conter emergencialmente a crise de abastecimento no estado de São Paulo, pode trazer uma solução perigosa: repassar água contaminada diretamente à população. Isso porque as estações de tratamento dos sistemas Guarapiranga e Alto Tietê – responsáveis pelo abastecimento de quase 10 milhões de pessoas e que passarão a receber água poluída da Billings (medida já anunciada pelo governador) – não têm condições imediatas de ampliar a capacidade de purificação da água.
A maior parte da Billings é infectada por esgoto, metais pesados e Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs), consideradas as substâncias mais perigosas e tóxicas do mundo. Uma parte menor está livre desses poluentes. O uso da parcela contaminada da represa implicaria distribuir água imprópria para o consumo, sem tratamento específico, o que pode comprometer a saúde da população.
O alerta é do geógrafo, pesquisador e professor da Unicamp Antônio Carlos Zuffo. “Os reservatórios (Guarapiranga e Alto Tietê) não vão dar conta de fazer o tratamento de água poluída da Billings para atender toda a demanda. Por isso, se quiserem utilizar a água da represa agora, farão apenas a desinfecção com cloro e a mandarão para as residências. Mas essa água não poderá ser consumida sob nenhuma hipótese. A cor será escura e o cheiro tão forte que dará náusea”, afirmou o professor.
Até o momento, nenhuma explicação foi apresentada pelo governador ou pelo presidente da Sabesp (Companhia Estadual de Saneamento Básico), Jerson Kelman, sobre como será realizada a distribuição da água contaminada da Billings. A única proposta apresentada, que pretende interligar o Rio Pequeno ao Sistema Rio Grande (ambos braços da Billings), permitindo a entrada de mais 2,2 metros cúbicos de água por segundo, só vai ficar pronta em 2018. O mesmo ocorre com a ampliação da capacidade de tratamento do Guarapiranga e do Alto Tietê.
O próprio governo do Estado é um dos poluidores da represa Billings. Resolução assinada pelo então governador Mário Covas (PSDB), em 1996, passou a permitir que o rio Pinheiros – dos mais poluídos do país, que recebe diretamente esgoto de milhões de residências da capital, além de detritos industriais – despejasse água contaminada à Billings em caso de chuvas extremas, com o objetivo de impedir alagamentos no centro de São Paulo. O serviço é realizado pela Empresa Metropolitana de Águas e Energia S.A. (Emae).
Se a represa que banha parte do ABC paulista foi “descoberta” pelo governo tucano somente agora, no meio da crise, movimentos e associações de defesa ambiental pedem a despoluição da Billings há mais de 20 anos, como Movimento de Defesa da Vida (MDV), que entrou, em 2010, com ação popular na Justiça contra o bombeamento do rio Pinheiros.
Água tratada
Como insistem em afirmar Alckmin e sua assessoria de imprensa, a água da Billings já é utilizada por meio dos braços Taquacetuba e Rio Grande (que atende a boa parte do ABC). No entanto, diferentemente do volume que seria transferido, a água captada no Braço Rio Grande é purificada para consumo em estações de tratamento. Ou seja: o montante que já é utilizado atualmente da Billings pela população do ABC está chegando à casa da população tratado. Ainda assim, o ABC já sente o transtorno da falta de água. Isso porque outros sistemas também abastecem as sete cidades, como o próprio Cantareira, que já opera em seu segundo volume morto.
No ABCD, conforme a Sabesp, residências de 88 bairros de São Bernardo, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra passam pela redução de pressão. Contudo, a situação regional é ainda pior, uma vez que a administração de Alckmin não divulga informações sobre municípios que possuem autarquias, como Santo André, São Caetano e Mauá, onde a Sama (Saneamento de Mauá) ampliou o racionamento de água. LUIZ CARLOS MURAUSKAS/FOLHAPRESS
Créditos: Rede Brasil Atual
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