A Petrobras emitiu nesta segunda-feira 2,5 bilhões de dólares em um raro título de 100 anos, pagando um rendimento de 8,45 por cento ao investidor, na primeira investida da companhia no mercado internacional de capitais desde o estouro da Operação Lava Jato, confirmou a petroleira em comunicado.
A conclusão da operação externa está prevista para ocorrer em 5 de junho, disse a estatal em comunicado.
O novo título carrega um cupom de 6,85 por cento e foi vendido a 81,07 por cento do valor de face. O rendimento ficou 549,3 pontos básicos acima dos títulos de referência do Tesouro dos Estados Unidos. A demanda superou 13 bilhões de dólares, segundo fontes do IFR, serviço da Thomson Reuters.
O rendimento ficou abaixo do preço inicial em discussão de 8,85 por cento e no piso da orientação para o yield de 8,55 por cento, mais ou menos 10 pontos básicos. Mas ainda oferece um spread em relação a curva de rendimento dos títulos de 30 a 100 anos do México, único país da América Latina que lançou nos últimos anos títulos de 100 anos.
O montante da emissão superou intervalo esperado, de 1 bilhão a 2 bilhões de dólares, segundo fontes contatadas pelo IFR.
A rara emissão de 100 anos chamou a atenção, mas alguns questionaram se a empresa, que ficou fora do mercado de capitais por mais de um ano, não estava sendo muito ambiciosa ao optar por um vencimento tão longo.
A Petrobras, que ainda se recupera de um grande escândalo de corrupção, busca dar uma indicação forte sobre a sua capacidade de crédito com o primeiro lançamento de um título corporativo de 100 anos da América Latina em quase 20 anos, de acordo com dados IFR.
"A ideia é fazer um movimento ousado", afirmou mais cedo uma fonte do setor bancário. "Fazer algo que só tem sido feito por um seleto grupo mostra força."
As taxas apresentadas são bastante atrativas para os investidores, disse a analista da corretora Concordia Karina Freitas.
"Pouco mais de um ano atrás, a Petrobras vinha captando com taxas que eram praticamente a metade disso", frisou Karina.
"Então talvez conseguir essa emissão não seja necessariamente uma sinalização de que o mercado está tão receptivo à companhia."
Alguns agentes de bancos disseram que a Petrobras poderia ter pago substancialmente menos se tivesse optado por um título mais curto.
Para o gerente de renda fixa da corretora Guide Investimentos, Bruno Carvalho, uma operação dessa natureza deve interessar apenas governos.
"Não vejo como pessoas físicas ou empresas privadas poderiam se interessar", destacou Carvalho.
Como a Petrobras ainda não se pronunciou sobre o tema, analistas destacaram que não está claro qual o objetivo da companhia com esta iniciativa, se é rolar dívidas ou garantir a capacidade para realizar os investimentos necessários.
O mais provável, segundo Carvalho, será a rolagem de dívidas, já que a empresa já mostrou que irá investir menos. Mas, por trás da estratégia, a estatal está buscando mostrar para o mercado uma confiança no desenvolvimento da companhia no longo prazo, acrescentou.
O negócio é a primeira emissão de bônus em dólares da companhia desde março de 2014, segundo dados do IFR, quando a petroleira fez uma emissão em seis tranches de 8,5 bilhões de dólares.
O analista da corretora Spinelli Elad Revi destacou que a empresa está se endividando ainda mais enquanto luta para reduzir indicadores de alavancagem.
Em março, o Conselho de Administração da petroleira havia autorizado que a estatal fizesse captações de até 19,1 bilhões de dólares líquidos em recursos ao longo de 2015.
Depois disso, a empresa contratou uma série de financiamentos com diversos bancos e informou em abril que já havia coberto necessidades para este ano. Entretanto, que continuaria a avaliar oportunidades de financiamento visando antecipar parte das necessidades de 2016.
"O fato de ela vir realmente a emitir bônus dessa natureza, mesmo depois de ter falado que já tinha cumprido suas necessidades (de financiamentos), mostra uma certa instabilidade para com o plano de negócios", afirmou Revi.
A emissão é vista como positiva para a perspectiva do rating da estatal pelas agências de classificação de risco.
"Se a Petrobras conseguir colocar esta emissão proposta, isso vai ser visto como um passo positivo para recuperar o acesso aos mercados de capitais de dívida, do qual depende para sustentar seu plano de investimento e necessidades de financiamento", disse Lucas Aristizabal, diretor sênior da Fitch, em comunicado.
A Fitch e a Standard & Poor's classificaram a emissão da Petrobras em "BBB-", mesmo rating dado à estatal, conforme comunicados divulgados nesta segunda-feira.
"Esperamos que a empresa use os recursos para propósitos corporativos gerais, incluindo o financiamento de seu plano de investimentos", afirmou a S&P, em seu comunicado.
O Deutsche Bank e o JP Morgan coordenaram a emissão.
(Por Davide Scigliuzzo, Paul Kilby, John Balassi, em Nova York, com reportagem adicional de Marta Nogueira, no Rio de Janeiro).
Créditos: Brasil 247
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