segunda-feira, 7 de julho de 2014
Agravamento do conflito israelense-palestino
Após o assassinato de um jovem palestino por radicais israelenses em Jerusalém Oriental, em terras da Palestina cheira de novo a intifada. De qualquer forma, assim dizem jornais israelenses. O sequestro e assassinato, na noite de 1 de julho de Mohammed Abu Khdeir de 16 anos de idade num subúrbio de Jerusalém foi uma resposta ao assassinato, em junho, de três adolescentes israelenses.
Neste agravamento trágico da situação à primeira vista não há nada de novo: o princípio de “olho por olho” já há muito que define as respostas de Israel a quaisquer ações de extremistas palestinos. Mas desta vez, por causa dos eventos, surge um fator muito sinistro.
Como reconhecem mesmo os jornais israelenses, o caso de Abu Khdeir mostrou que em Israel estão começando a agir ativa e agressivamente organizações judaicas ultranacionalistas. Mohammed Abu Khdeir foi sequestrado e queimado vivo só um dia depois de terem sido encontrados os cadáveres de três adolescentes israelenses sequestrados. Israel acusou do sequestro militantes do Hamas. As componentes do “coquetel inflamável” imediatamente deram um novo incêndio.
Nas áreas árabes de cidades israelenses continuam até agora manifestações contra o assassinato. Nas paredes de casas apareceram inscrições de “Morte aos israelitas”. O campo oposto escreve nas mesmas paredes “Morte aos árabes”. Os confrontos se espalharam, além de Jerusalém Oriental, a Nazaré e a cidades no norte de Israel.
A polícia de Jerusalém anunciou que prendeu seis ativistas de grupos nacionalistas suspeitos de terem queimado o palestino. O jornal Jerusalem Post informou hoje que os presos pertencem ao grupo de apoio La Familia do clube de futebol Beitar de Jerusalém. La Familia, segundo o jornal, já há muito que está no campo de atenção da polícia de Israel por extremismo violento.
A situação escalou a tal ponto que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, se viu obrigado a convocar na noite de domingo 6 de julho uma reunião de emergência do gabinete. Ele disse que a morte do palestino é um “atentado terrorista” e que em caso de confirmação de envolvimento no assassinato os culpados serão punidos por lei. Netanyahu apelou aos líderes de ambas as comunidades árabe e judia de Israel a tranquilizarem a população.
Entretanto, muito dependerá das autoridades israelenses realmente levarem os culpados a responder perante a lei. Os palestinos já há muito que não acreditam na imparcialidade da investigação e dos tribunais israelenses. O líder palestino Mahmoud Abbas chegou a enviar uma mensagem especial ao secretário-geral da ONU Ban Ki-moon pedindo que ele se encarregasse da investigação da tragédia.
A principal questão agora é como esses acontecimentos irão afetar o processo de resolução do conflito palestino-israelense. E para quem o agravamento é vantajoso.
Uma nova intifada palestina está, sem dúvida, sendo provocada por alguém, e isso não pode ser a liderança palestina, diz o presidente da Sociedade de amizade e cooperação empresarial com países árabes, o proeminente cientista político Viacheslav Matuzov: “Eu me encontrei em Moscou com o líder palestino Mahmoud Abbas durante sua última visita a Moscou em 24 de junho”. Ele está firmemente comprometido com o processo político de resolução e os próprios palestinos estão menos de tudo interessados em frustrar o processo de paz, acredita Viacheslav Matuzov:
“Na realidade, os palestinos estão só reforçando as suas posições. E os norte-americanos não gostam nada disso. Isso vai contra a sua estratégia: de quebrar, dividir o mundo árabe e mergulhar os países árabes num estado de “caos controlado” que vemos hoje na Síria, no Iraque, na Líbia, no Iêmen e no Sudão”.
O mais triste é que os Estados Unidos, especialmente a atual administração de Barack Obama, com suas ações estão destruindo todo o fundamento do acordo que foi construído durante décadas, diz Viacheslav Matuzov:
“Os Estados Unidos quebraram a prática estabelecida e violaram os princípios básicos nos quais, durante os últimos anos, com bastante sucesso, embora lentamente, progredia a resolução no Oriente Médio e as negociações de paz entre Israel e os palestinos. A Rússia, a ONU e a Europa partiam do fato de que o sucesso nas negociações só pode ser alcançado através de esforços conjuntos do “quarteto” de mediadores: Estados Unidos, Rússia, União Europeia e Nações Unidas. Os EUA recentemente “puxaram o cobertor” pra seu lado e tentaram fazer tudo sozinhos. E falharam tudo miseravelmente”.
Devido a tal “não profissionalismo” de Washington desenvolveu-se uma situação crítica, acredita Viacheslav Matuzov. Por causa da política dos EUA na Síria, no Iraque, na Ucrânia está de fato bloqueada a cooperação internacional com a Rússia sobre a solução do problema palestino. Restaurar essa cooperação será incrivelmente difícil.
Os esforços de mediação dos EUA na Palestina agora não têm grande significação, acredita um dos principais pesquisadores do Instituto de Estudos Orientais da Academia de Ciências Russa Tatiana Nosenko. Suas missões falharam ainda em abril deste ano e tudo o que foi feito depois disso foi, de fato, um exercício sem sentido, relações públicas.
O problema da Palestina é nem sequer o fracasso dos recentes esforços de mediação, mas o fato de que o mundo árabe mudou radicalmente após a Primavera Árabe. O nacionalismo secular de muitos estados árabes foi substituído pela busca de uma identidade nacional, e essa busca tem só uma inclinação: para a religião, diz Tatiana Nosenko. Neste contexto, o problema palestino, infelizmente, não é mais o poderoso fator de consolidação para o mundo árabe, como era nos anos 60-70 do século passado, diz Tatiana Nosenko:
“Veja de que se ocupam hoje os principais países árabes. Isso está muito longe dos problemas do povo palestino. Hoje, os palestinos em grande parte estão abandonados à própria sorte. A nível internacional, este apoio também está sendo reduzido, porque no mundo nestes anos surgiram demasiados outros problemas e o problema palestino, de certa forma, está saindo “fora do campo”, está se marginalizando”.
Na segunda-feira de manhã, o Egito ofereceu os seus esforços de mediação para resolver a nova crise nas relações entre a Palestina e Israel. Mas por enquanto é difícil dizer que resultado isso dará.
Foto: AP/Mahmoud Illean
Créditos:Voz da Russia
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