Segundo dados do IBGE, na última década, o número de fiéis ao catolicismo encolheu 12% no Brasil. Já os evangélicos cresceram 44% no mesmo período. Isso se deve, em grande parte, a descaminhos tanto financeiros quanto de imagem da Igreja Católica. Denúncias de corrupção no Banco do Vaticano passaram a ser rotineiras no Palácio Apostólico, a moradia oficial dos papas desde o século XIV. Além disso, a omissão da instituição, sobretudo no reinado de seus dois últimos antecessores, João Paulo II e Bento XVI, diante das conhecidas e comprovadas denúncias de atos de pedofilia cometidos por membros do clero afetava ainda mais a imagem já desgastada dos católicos.
“As políticas de austeridade e transparência causaram um grande impacto na sociedade”, afirma o padre Érico Hammer, professor de teologia da PUC-RS. “Será difícil a Igreja voltar atrás nesse tipo de discurso.” Mais do que as mudanças nas finanças da instituição, Francisco passou a abordar dilemas morais, assuntos antes intocáveis para as antigas gestões. Em conversas restritas, o papa admitiu a intenção de dar mais espaço às mulheres na Igreja Católica. O primeiro passo foi a nomeação de Mary Ann Glendon, ex-embaixadora dos Estados Unidos no Vaticano, para um dos cargos na comissão especial de inquérito que investiga as irregularidades do Banco do Vaticano.
O tom do discurso adotado pelo papa surpreendeu alas conservadoras da Igreja. Entre as declarações mais polêmicas está a abertura das portas para os homossexuais. “Se uma pessoa é homossexual e procura Deus, quem sou eu para julgá-la?”, disse Francisco. Em outubro, após o encontro de 200 bispos no Sínodo Extraordinário sobre a Família, a Igreja Católica declarou que “os homossexuais têm dons e atributos para oferecer à comunidade” e que a instituição deve se desafiar a encontrar “um espaço fraterno”. Outro grupo de pessoas antes desprezado e que vem ganhando corpo nas conversas é o de divorciados.
“O papa encontrou uma forma de se aproximar dos grupos renegados sem causar ruptura com os princípios católicos”, diz Jaime Troiano, consultor de branding e mestre em sociologia da religião pela Universidade de São Paulo. “A Igreja percebeu que tinha de melhorar a imagem e que não precisava ser carrancuda.” Os resultados da gestão revolucionária do papa argentino já estão aparecendo. Na América Latina, região com maior número de católicos do mundo, o índice de confiança da população na Igreja Católica aumentou de 69% para 78%, segundo a ONG chilena Latino-barometro.
“O carisma do papa também pode ajudar a diminuir o ímpeto do crescimento evangélico no Brasil”, afirma Troiano. “Os católicos precisavam de um líder carismático.” E a atenção com o Brasil, com cerca de 115 milhões de fiéis, deve ser redobrada. Segundo dados da Receita Federal, as igrejas brasileiras arrecadam por volta de R$ 21,5 bilhões anuais, 70% dessa dinheirama por meio de dízimos e doações. O mercado gospel, com produtos como discos e livros de religiosos, movimenta outros R$ 15 bilhões. Reconquistar espaço em seu maior mercado é mais uma missão do CEO do Vaticano. Por: André Jankavski
Créditos: Focando a Notícia
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