Ter um corpo com proporções perfeitas, ‘sarado’, com músculos aparentes (no caso dos homens), ou com curvas acentuadas (nas mulheres), é o desejo de muitas pessoas. Essa vontade costuma crescer à medida que a temperatura aumenta e o verão se aproxima, época do ano em que, culturalmente, há um aumento na frequência em praias e clubes, dentre outras práticas, existindo uma maior exposição corporal.
Nesse momento, a busca por uma transformação corpórea através de atividades esportivas em um curto espaço de tempo, já pensando no mês de janeiro, sem a devida orientação de um profissional de educação física, nutricionista ou médico, pode acarretar em um exagero nos treinamentos realizados, ações que, ao invés de proporcionarem os resultados almejados, podem comprometer a saúde do praticante, fazendo com que o mesmo chegue a um quadro conhecido como síndrome do ‘overtraining’.
O termo, se traduzido ao pé da letra do inglês, seria algo como ‘ir além do treinamento’. Tornou-se comum ao ser utilizado por treinadores de atletas ao perceberem uma queda no rendimento dos mesmos em decorrência de excessos aplicados à estrutura física.
‘Overtraining’, portanto, trata-se disto – “um exagero no treinamento esportivo, onde existe uma intensa sobrecarga e pouco tempo para recuperação”, como conta o professor e personal trainer Alexandre Carvalho, especialista em fisiologia do exercício. Simplificando, a situação ocorre quando o atleta (profissional ou amador) faz mais exercícios do que o organismo é capaz de aguentar e se recuperar.
Segundo Alexandre, essa carga física além do que se pode suportar se dá por várias maneiras, como frequência excessiva em determinado tipo de exercício, utilização de pesos inadequados na musculação ou até a prática de várias atividades simultâneas.
Atletas de alto nível e de renome internacional, como o brasileiro Júnior Cigano, já sofreram com o problema. No caso do lutador de MMA, segundo o próprio pôde alegar, o exagero nos treinamentos fez com que ele sentisse uma diminuição de força, levando-o à derrota contra o americano Cain Velásquez. O que antes era uma questão que afetava profissionais, na maioria dos casos, passou a ser percebida entre amadores.
“Algumas pessoas combinam a prática da musculação com corrida, artes marciais, aulas de aeróbica, entre outras atividades. As próprias academias geralmente já oferecem um pacote de opções completo aos alunos, que procuram, muitas vezes, praticar modalidades inadequadas a individualidades biológicas, características físicas e idade”, disse o especialista, acrescentando que todo tipo de treino deve ser acompanhado por um profissional habilitado, para que, através dos princípios corretos, possa ser feito um direcionamento adequado.
O professor explica que em toda atividade física deve haver um período de adaptação, com respeito às particularidades de cada um. Além disso, segundo ele, o tempo de repouso após os exercícios deve ser levado bastante em consideração.
“Se houve sobrecarga, se correu, se pedalou, se teve impacto, o tempo de descanso deve ser proporcional ao esforço da atividade para evitar o estresse do organismo”, afirmou.
Muitas vezes, de acordo com Carvalho, o atleta procura superar limites sem pensar no choque causado. Além disso, com o “culto ao corpo perfeito”, sobretudo nesta época, o praticante de atividade física pode estar colocando a saúde em situação de risco.
“A princípio, quando a pessoa já vem se excedendo nos treinos, seja em qual for o esporte, existe a sensação de uma ‘falsa energia’, ou uma disposição a mais para a prática. Nesse momento, geralmente, o organismo já pode estar estressado, com a imunidade comprometida”, conta Alexandre.
A partir de então, conforme o professor, há uma descompensação orgânica, podendo haver, inclusive, alterações hormonais. “O cortisol, um hormônio catabólico (processa matéria orgânica para obter energia), passa a ser liberado com maior intensidade, fazendo com que o corpo busque essa necessidade energética no tecido muscular, causando a perda da chamada ‘massa magra’, ao invés da gordura, provocando um consequente falso emagrecimento, que pode aparentar um resultado positivo, o que não acontece na verdade”.
A perda de peso repentina pode ser acompanhada por fadiga, falta de disposição para as atividades do dia a dia, distúrbios do sono, irritabilidade, enxaqueca, tontura, enjoo, oscilação da pressão arterial e da frequência cardíaca.
“Além do emagrecimento inadequado, o ‘overtraining’ pode chegar a causar tremores musculares e afetar o estado psicológico da pessoa, podendo levar a um quadro de depressão e afastamento do convívio social, quando esta percebe que o esforço não está dando resultado”, alertou Carvalho, dizendo que essa insatisfação é o motivo pelo qual muitas pessoas não perseveram na prática de atividade física.
Ao perceber qualquer um desses sintomas em meio a uma rotina de treinos, deve-se observar se está ocorrendo algum excesso, análise que deve ser feita pelo profissional de educação física.
De acordo com Alexandre Carvalho, se os sintomas forem percebidos em estágio inicial, é preciso comunicar ao professor/treinador para que ele faça as adaptações necessárias ao treino, reduzindo a intensidade. “Se pratica corrida e a perna passou a doer, passe a caminhar por um tempo ou substitua por uma prática de menor intensidade para as articulações, como a natação”, disse.
Créditos: Portal Correio
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