Segundo o militante da Pastoral da Juventude Rural (PJR) e do coletivo de jovens da Via Campensina, Paulo Mansan, “os fatores que levam a essa saída são principalmente estruturantes. Em primeiro lugar, o jovem não tem acesso à terra: a maior parcela de jovens que está saindo do campo são sem terras”.
Os problemas encontrados na falta de políticas e incentivo para a Reforma Agrária afetam diretamente a juventude. Segundo Mansan, o jovem é um dos maiores prejudicados pela paralisação da Reforma Agrária. “O caminho que ele encontra no final é acabar trabalhando como empregado e ganhar um salário mínimo na cidade do que tentar continuar na luta pela terra”.
Sem um lote próprio e condições estruturais dignas, o jovem não consegue obter uma renda fixa no campo e vai para a cidade. Segundo Natacha, “É uma questão de sobrevivência. O jovem tem a necessidade de uma renda mensal, e a cidade oferece a ele um vínculo empregatício e um salário, mesmo que seja baixo. A agricultura não dá a ele as relações materiais que a cidade dá”.
Inclusão
É difícil para o jovem obter um lote de terra hoje pela Reforma Agrária, pois o cadastro do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) privilegia agricultores que aguardam a terra por mais tempo e que tem uma família constituída, fatores que excluem os mais novos de obter um pedaço de terra.
Apesar de concordar com a priorização feita pelo Incra, Mansan admite que é necessário pensar em formas de acabar com a exclusão da juventude advinda dele. “É preciso pensar em uma forma de assentar o jovem, como por exemplo, assentar vários jovens em um único espaço”.
Segundo Willian Clementino, secretário de políticas agrícolas da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), as organizações sociais e o Incra estão discutindo formas de inclusão da juventude no cadastro. “Nos últimos dois anos incidimos bastante na norma de seleção do Incra. Hoje há um grupo de trabalho na entidade que discute as normas de seleção e como potencializar o acesso da juventude à terra”.
A exclusão do jovem não se dá apenas no acesso à terra, mas na falta de voz em relação à tomada de decisões e participação nos lotes da família. Segundo Mansan, essa lógica “é uma coisa que os movimentos têm que desconstruir, porque é muito predominante. As relações patriarcais dificultam a permanência do jovem, pois quando não há um processo bem discutido de cooperativismo, quem controla os recursos da família e até mesmo os frutos do trabalho do jovem no lote é quem coordena a família.
Dessa forma, o jovem acaba tendo dificuldade de ter renda própria. Esse fator contribui para sua saída, pois longe dos pais, o que ele ganhar é dele, podendo até mandar dinheiro para ajudar a família. A sensação de sair do lote contribui na busca da independência desse patriarcalismo. Para quebrar isso, nós temos que construir novas práticas de cooperativismo”.
Para Natacha, “a juventude é parte da classe trabalhadora, mas se encontra na transição entre adulto e criança. Entrar no mercado de trabalho é difícil: o jovem acaba fazendo o trabalho braçal nos lotes familiares, mas não tem acesso direto aos frutos dos seus trabalhos. Eles querem trabalhar no campo, mas a sua vontade acaba sendo podada pelos adultos. O jovem participa, mas sua opinião não é decisiva; ele quer estar incluído no campo, mas para isso acontecer de fato, as suas decisões precisam ser levadas em conta”.
Quais soluções?A não permanência da juventude no campo preocupa os agricultores mais velhos com relação ao destino da propriedade: se não há ninguém da família que tenha vontade de herdá-la, o que vai acontecer com ela? Uma resposta ao problema da sucessão vem sendo cursos técnicos, que capacitam os jovens a se tornarem empreendedores. No entanto, esta lógica individualista transforma o lote em um simples negócio, além de sua eficácia ser questionável.
De acordo com Mansan, “não que o jovem não tenha que saber administrar sua propriedade, mas querer resolver o seu problema sozinho não é possível. A solução está nas práticas onde se desenvolve o cooperativismo, o associativismo, onde o jovem é integrante de um grupo que coletivamente consiga produzir as práticas de um campo diferente, um campo onde tem gente e onde ele viva com qualidade de vida. Essa é a grande luta. Essa história do empreendedorismo, nós podemos perceber que 80, 90% dos casos não dão certo. Sozinho o jovem não consegue resolver tudo”.
Para que o jovem possa não apenas suceder os pais, mas ser capaz de pensar e experimentar novas formas de agricultura, ele precisa ser reconhecido como agente político no campo, tão capaz de produzir quanto os adultos. Se isso for concretizado, os benefícios são grandes. Willian aponta que “a juventude hoje no campo é protagonista das experiências alternativas no campo. As maiores experiências de agroecologia, de lidar com a terra, produzir alimentos sem veneno, exploração do turismo rural, com potencial sustentável, econômico e financeiro tem sido experiências da juventude”.
Exemplos desse protagonismo, cita Willian, são jovens do Maranhão que fizeram um curso de capacitação na CONTAG, e depois arrendaram um terreno coletivamente, onde começaram uma produção agroecológica; jovens no sul do país que trabalhavam com fumo, mas abandonaram a produção para iniciar o trabalho com agroecologia, e jovens que trabalham com o turismo rural, mostrando às pessoas o que é e como funciona a agricultura familiar. A capacidade da juventude em criar, segundo Mansan, se dá porque “ela está no momento de buscar novas experiências. O jovem está mais aberto ao sonho e num processo de encantamento maior, e é aí que nós temos que, juntamente com a juventude organizada, provar que o campo é o lugar que deve ser construído coletivamente e que a juventude tem um papel determinante, tanto para inovar quanto pela sucessão”.
MST e Focando a Noticia
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