domingo, 8 de março de 2015

Crianças com pais do mesmo sexo podem se tornar realidade dentro de dois anos

Bebês com dois pais biológicos do mesmo sexo estão próximos de se tornarem realidade. Uma pesquisa realizada na Universidade de Cambridge, Inglaterra, em parceria com o Wiezmann Institute, de Israel, demonstrou ser possível produzir células-tronco humanas a partir de células da pele.
No estudo, publicado na revista científica Cell, os pesquisadores documentaram como conseguiram criar células-tronco a partir de células já diferenciadas de humanos adultos. Desta forma, os cientistas acreditam que dentro de 2 anos a produção de gametas – e de bebês – possa ser feita em laboratório usando-se células diferenciadas. A descoberta abre as portas para que casais homoafetivos ou inférteis possam ter filhos biológicos, algo até então impossível.
Para Azim Surani, Professor da Universidade de Cambridge, que chefiou o estudo, este é o primeiro passo para a produção de gametas em laboratório.
“Nós tivemos sucesso no primeiro e mais importante passo deste processo, que foi demonstrar a possibilidade de criar estas células-tronco tronco humanas em estágio inicial in vitro”, afirmou em uma entrevista ao britânico Sunday Times.
Ele conta que o processo estudado foi capaz de “resetar” as células para um estágio pré-embrionário, sem mutações genéticas. Ou quase.
“Isso significa que a célula foi regenerada e resetada [sic], ou seja, enquanto as outras células do corpo sofreram a ação do tempo e contêm erros genéticos, essas não os possuem. Não podemos dizer que as mutações foram todas revertidas, mas a maioria delas não foram encontradas”, explica. Conforme o estudo detalha, a chave para a “reprogramação” das células humanas está num gene conhecido como SOX17, que havia sido deixado de lado nas pesquisas anteriores. 
A descoberta animou tanto ativistas de movimentos LGBTs quanto casais inférteis, uma vez que o estudo demonstrou a possibilidade desses casais terem filhos num futuro próximo. Outro detalhe que chama a atenção é o próprio currículo do professor Surani, que esteve envolvido nas pesquisas que levaram ao nascimento de Louise Brown, a primeira criança nascida após uma fertilização in vitro, em 1978.
A bagagem intelectual do Professor demonstra seu conhecimento e seu comprometimento com o assunto, o que atesta a confiabilidade dos resultados do estudo.
Além de Surani, outro especialista envolvido na pesquisa é Jacob Hanna, de Israel. Hanna já esteve envolvido em diversas outras pesquisas sobre células embrionárias e diferenciação celular, também com um extenso currículo acadêmico. Ele especula que dentro de 2 anos cientistas poderão trabalhar no desenvolvimento de gametas saudáveis que darão origem a bebês.
As contribuições do estudo também impactam a área de pesquisas voltadas para células-tronco. Com as novas descobertas, as pesquisas com células-tronco humanas devem acelerar e é possível que num futuro próximo elas sejam usadas para reparar tecidos de órgãos doentes.
Para os professores Martin Evans, laureado do Nobel de Medicina de 2007, e Robin Lovell-Badge, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa Médica do Reino Unido, as conclusões deste estudo abrem ainda outras portas.
“[O estudo trouxe] uma nova explicação para um [elemento] da biologia humana”, diz Evans.
Já o Professor Robin vê novas possibilidades de estudo sobre o sistema reprodutor humano: “Isto [o estudo] será muito útil no desenvolvimento de espermas e óvulos, não somente como células germinativas, mas como células maduras. Isso será muito importante para entendermos as causas da infertilidade e para tratá-la”, afirma.
Apesar das boas expectativas em torno dos resultados e suas possíveis aplicações, os pesquisadores se mostram preocupados com as implicações éticas do estudo.
“Eu não sou a favor de criar seres humanos ‘em laboratório’ e as implicações sociais e éticas […] devem ser analisadas antes, mas estou muito confiante de que isso acontecerá e será muito relevante para qualquer um que perdeu sua fertilidade por causa de doenças”, afirmou Hanna.
Para David King, diretor da Human Genetics Alert, uma ONG dedicada à pesquisa e divulgação de implicações éticas da engenharia genética, as descobertas podem ter resultados não esperados e socialmente inaceitáveis.
“[Estou] preocupado que cientistas possam ver [a criação de células germinativas] como uma maneira conveniente para criarem bebês geneticamente manipulados.”
Mas para a felicidade de casais impossibilitados de terem filhos biológicos, é possível que resultados mais claros saiam em breve: o estudo completo está disponível gratuitamente no site da Revista Cell. Desta forma, mais pesquisadores da área poderão realizar estudos mais profundos sobre o assunto e, com algum tempo, desenvolverem técnicas para fertilização sem a necessidade da produção biológica de gametas.
Caso as expectativas se tornem realidade, serão necessárias algumas mudanças na legislação de alguns países para que a produção de gametas artificias possa ser feita em larga escala. Na última terça, um processo não menos polêmico, que permite a eliminação de defeitos mitocondriais – e dá origem a bebês com material genético de duas mães e um pai – foi aprovado pela Câmara dos Lordes, na Inglaterra, depois de ter passado, com uma pequena resistência, pela Câmara dos Comuns.
Assim, caso os anseios de Hanna confirmem-se, é provável que dentro de dois anos o Parlamento britânico esteja discutindo a legalidade de procedimentos laboratoriais para o desenvolvimento de gametas – e consequentemente, de bebês – a partir de outras células do corpo.
Créditos: Focando a Notícia

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